A colheita - Cris Guerra
O amor é fruto naturalmente doce!
Eu procurava o amor em jardins de cactus.
Vinha buscando o fruto em árvores erradas, e
nas mordidas sentia o gosto azedo, que
amarga no fim da boca. Colhi amores
podres, comidos pelo tempo e dor.
Foi preciso paciência – e um outro tempo –
amadurecendo um fruto para colhê-lo
doce, suave, terno e delicado. Simples
como naturalmente é. Eu imaginava
haver segredos por trás dos espinhos.
Mas é puro acaso que amores e espinhos
se encontrem em botões abertos ou fechados.
A rima entre amor e dor é armadilha.
O verdadeiro fruto está ao alcance das
mãos – mas é tão rasteiro, que quase não
se vê. É preciso passear sem fome para
enxergá-lo redondo, vermelho.
Para então mordê-lo distraído
como numa tarde de chuva.
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